Dentro de um enquadramento rígido e monótono, ele passou a
ver o mundo.
Não importavam as suas vontades, medos, os seus desejos,
suas vergonhas... Nada era percebido. Talvez, parte disto era suposto pela
equipe que passou a acompanhá-lo. Agora, uma nova forma de alimentação,
medicação, rituais de higiene e reabilitação tornaram-se parte de sua rotina.
Por mais humanizada que aquela abordagem pudesse ser, era mecânica. Por mais
dedicadas e obstinadas que suas terapeutas fossem não vislumbravam qualquer
contato além de um SIM ou um NÃO representados por uma ou duas piscadas do seu
único olho funcionante. Isto, levando-se em conta a otimista possibilidade de
que aquele homem tivesse mantido a sua cognição intacta. Assim como uma criança não pede para nascer,
ele também não pedira aquilo para si, mas, ali estava ele: indefeso, vítima de
uma tragédia pessoal, que, sem aviso prévio, o enclausurou dentro do seu próprio
corpo.
Ele só dominava os movimentos de um de seus olhos e
absolutamente nada mais. A interação com o mundo nestes casos é mínima. E por
que não dizer, intuitiva?
Mas, afinal de contas, que assunto está em pauta?